Para mulheres que foram acometidas pelo câncer de mama e submetidas a cirurgia para retirada do tumor, a reabilitação física é primordial para minimizar os efeitos da cirurgia, promover a independência funcional e melhorar a qualidade de vida.
Apesar da reabilitação física convencional ser realizada através da fisioterapia e outras práticas terapêuticas , o Pilates não pode ser descartado como forma de reabilitação uma vez que apesar de poucos estudos publicados, o Pilates possui em sua composição elementos que auxiliam na recuperação física da paciente, além de outros componentes terapêuticos.
O objetivo deste artigo é levantar o questionamento do Pilates como prática terapêutica complementar para reabilitação de mulheres acometidas pelo câncer de mama.
Palavras- Chave: Pilates; Exercício; Câncer de Mama
Key Words: Pilates; Exercise; Breast Cancer
Introdução:
O Câncer de mama é um dos câncer mais comum que ocorre entre mulheres no Reino Unido (Mutrie, Natette et al; 2007). Mais de 40.000 novos casos são reportados a cada ano naquele país. No Brasil, o câncer de mama é o que mais causa mortes entre as mulheres. No Estado de Minas Gerais, a estimativa para o ano de 2008 foram 4.280 novos casos, sendo 860 casos na capital*.
A detecção precoce e a melhora nas técnicas de tratamento resultam num aumento da relação de sobrevivência, nos últimos cinco anos é estimado um aumento de 80% na chance de sobrevida nos casos com detecção precoce e combinação de modalidades de tratamento, entre eles cirurgia, radioterapia, quimioterapia sistêmica e tratamento hormonal. O tratamento para o câncer de mama também inclui modalidades como psicoterapia, suporte social e fisioterapia ( www.inca.gov.br/estimativa/2008).
A intervenção com exercícios pode melhorar a atividade e a qualidade de vida das mulheres acometidas pelo câncer de mama, principalmente pós-operatório, uma vez que o nível de atividade física reduz significativamente nas mulheres após o diagnóstico e poucas retornam a atividade após o fim do tratamento(Irwin M et al, 2003) podendo ocasionar inclusive ganho de peso, isolamento social, e dificuldade em realizar as atividades de vida diária e instrumental devido as limitações impostas pela mastectomia. Um Estudo prospectivo em sobreviventes do câncer de mama indicou uma redução em 50% no risco de mortalidade entre mulheres significativamente ativas comparadas com as que continuaram inativas após o diagnóstico (Brady
Mj,1997).
O exercício físico em pacientes com câncer de mama e sobreviventes aumenta a qualidade de vida, melhora as condições cardiorespiratórias, a fadiga, e as funções físicas. Entretanto, pouco ainda é pesquisado a respeito do Pilates como técnica de
tratamento complementar em mulheres submetidas a mastectomia, O objetivo deste artigo é levantar o questionamento do pilates como prática terapêutica complementar para reabilitação de mulheres acometidas pelo câncer de mama.
Uma vez que esta prática é realizada pelo fisioterapeuta como modalidade de terapia e praticada internacionalmente. No Brasil, a técnica foi trazida na década de 90 e atualmente é altamente difundida, sendo inclusive indicada por profissionais da área de saúde como alternativa de tratamento de reabilitação.
*Estimativa para o ano de 2008 das taxas brutas por incidência por 100.00 e de número de casos novos por câncer , em mulheres, segundo localização primaria.
Metodologia:
Foi realizado um cruzamento de termos na base de dados eletrônicos do PubMed. Três termos foram relacionados à avaliação Pilates, Exercício e Câncer de Mama (“Pilates”, “Exercises” e “Breast Cancer”). Não foram utilizados quaisquer limites para a realização da busca. Apenas um único artigo foi encontrado com esta definição, a busca foi então realizada utilizando as
palavras Pilates e câncer mama (“Pilates”, “Breast Câncer”) 38 cruzamentos foram encontrados pelas palavras descritas. Destes foram selecionados 8 resumos dos artigos onde alguns artigos repetiam na solicitação feita. Após esta primeira verificação os artigos selecionados foram requeridos através da biblioteca da faculdade de medicina da UFMG. Foram utilizados também busca de trabalhos através da Biblioteca da Bireme e sites relacionados ao câncer de mama.
Pilates:
O Pilates foi introduzido no Brasil em 1990, mas a técnica já era difundida internacionalmente. Inicialmente chamada de “contrology” ,Pilates foi desenvolvido no inicio de 1900 e é baseado nas teorias orientais da interação do corpo-mente-espírito associado as teorias ocidentais de controle motor e biomecânica. Durante a sessão de Pilates, há uma coordenação do esforço
mental focando a ativação de alguns músculos específicos enfatizando a precisão, o controle do movimento e a respiração. As repetições dos exercícios raramente excedem a 10. Os praticantes do Pilates demonstram após o exercício relaxamento, bem estar, melhor coordenação, desenvolvimento uniforme da musculatura e diminuição do stress. O efeito do Pilates na postura,
força muscular, composição muscular e flexibilidade em adultos praticantes tem sido bem estudado. O pilates tem sido recomendado como técnica de reabilitação para dançarinos para prevenir lesões provocadas pela dança.
Apesar do aumento da popularidade desta prática , os efeitos desta terapia em indivíduos com outras patologias ainda é pouco estudado. Joseph Pilates combinou o foco mental e exercícios de respiração específicos da Yoga e atividades físicas direcionadas a ginastas e outros esportes, numa completa coordenação de corpo, mente e espírito(Caldwell, Karen; 2007).
Evidências sugerem que o técnica do Pilates melhora a força muscular, a flexibilidade e o sistema límbico e espinal.
Princípios Básicos:
O Pilates utiliza alguns princípios básicos em sua execução, entres eles:
1- Respiração com enfoque na organização do tronco,
2-Alongamento axial da coluna e controle de centro (contração da musculatura abdominal associado ao contração do períneo), 3-Organização da cintura escapular e da coluna torácica
e cervical,
4- Exercícios para desenvolver a mobilidade da coluna para equilibrar a biomecânica,
5- Alinhamento e descarga de peso nas extremidades,
6-Integração de movimento pélvis, coluna torácica, cabeça e extremidades.
Fisioterapia e Câncer de mama:
O desenvolvimento do linfoedema secundário a remoção dos nódulos linfáticos é um problema em potencial para mulheres com câncer de mama (Box, Robyn C;2002). Além do linfoedema, há uma redução da amplitude de movimento do ombro devido a mastectomia e a retirada dos nódulos linfáticos axilares.
A fisioterapia como intervenção pós operatória pode otimizar a recuperação do movimento do ombro e a redução do linfoedema. E bem conhecido que o linfoedema pode causar stress psicológico nas mulheres após a cirurgia para retirada do tumor. A Fisioterapia é um recurso utilizado para redução do linfoedema causado por este tipo de cirurgia. Auxilia também como coadjuvante no tratamento para promover a progressiva melhora na amplitude de movimento do ombro, diminuição do quadro de dor e redução do stress psicológico(Cadlwell k et al,2008)
Resultados e Discussão:
O desenvolvimento secundário do linfoedema no braço aos a remoção dos nódulos linfáticos é um problema em potencial para mulheres com câncer de mama(Box, Robyn C;2002). Foi realizado um estudo para investigar a incidência do linfoedema seguido pela dissecção axilar e o efeito da intervenção precoce da fisioterapia. 65 mulheres foram divididas em dois grupos , um grupo que recebeu tratamento e o grupo controle. Elas foram avaliadas no pré-operatório, no quinto dia após a cirurgia , e no primeiro, terceiro mês , sexto mês , um ano e dois anos após a cirurgia. Três medidas foram utilizadas para detecção do
linfoedema: Circunferência do braço, volume e bioimpedância. Aumento do edema foi clinicamente confirmada em ao menos 200 ml de volume comparando o pré-operatório com o pós –operatório. A incidência do linfoedema no 24 mês foi de 21%, sendo a razão de 11% no grupo que recebeu fisioterapia e 30% no grupo controle. O programa de fisioterapia nas mulheres que foram submetidas ao tratamento inclui princípios de minimização dos riscos para o linfoedema e orientação precoce deste condição quando identificada.
Em outro estudo, foi avaliado o efeito do Pilates na amplitude de movimento, dor, humor, e função do membro superior em 4 mulheres que foram submetidas a dissecção axilar e terapia por radiação e que se encontravam nos estágios I ao IV do câncer de mama. Análise dos resultados sugerem um modesto efeito do programa de exercício realizado pela técnica Pilates na melhora da abdução do ombro e na rotação externa. Significância estatística foi demonstrada na melhora do movimento de rotação interna e externa do ombro. Nenhum efeito adverso foi experimentado (keyas, S. Kim; 2008).
O linfoedema, redução da amplitude do movimento do ombro, e a dificuldade para exercer atividades de vida diária e instrumentais devido a diminuição da função da cintura escapular podem estar presente nas mulheres acometidas pelo câncer de mama e submetidas a cirurgia para retirada dos nódulos linfáticos. A fisioterapia é um coadjuvante no tratamento destas mulheres que foram submetidas a mastectomia. Intervenções apropriadas são necessárias para minimizar o impacto da cirurgia neste grupo. Uma técnica difundida internacionalmente que surgiu no início do século xx e atualmente aplicada no
Brasil é o Pilates. Apenas um estudo específico associando o Pilates como terapia auxiliar no tratamento do câncer de mama foi encontrado.
Conclusão:
Apesar do Pilates ser uma prática difundida em escala logarítmica há poucos estudos que comprovam sua evidência e eficácia. Cabe ao fisioterapeuta aplicar os princípios da fisioterapia baseada em evidências para confirmar a elegibilidade das técnicas aprendidas. O Pilates pode vir a ser uma opção eficaz e segura para mulheres que estão se recuperando do câncer de mama, entretanto mais pesquisas deverão ser desenvolvidas neste campo.
Referências Bibliográficas:
Altered motor control, posture and the Pilates method of exercise prescription.
Curnow D, Cobbin D, Wyhdham J, Boris Choy St.
J Bodyw Mov Ther.2009 Jan;13(1):104-11.Epub 2008 Aug 6
Benefits of supervised group exercise programme for women being treated for
early stage breast cancer: pragmatic randomized controlled trial.
Mutrie N, Campbell AM, Whyte F, McConnachie A, Emslie C, Lee L, Kearney
N,Walker A, Ritchie D.
BMJ. 2007 Mar 10;334(7592):484-5
Brady MJ, Cella DF, Mo F, Bonomi AE, Tulsky DS, et all. Reliability and Validity
of the functional assessment of cancer therapy- breast quality-of-live instrument.
J Clin Oncol 1997;15:974-86.
Effects of Pilates exercises on shoulder range of motion, pain, mood, and upper
–extremity function in women living with breast cancer: a pilot study.
Keays Ks, Harris Sr, Lucyshyn JM, Macintyre DL.
Phys ther. 2008 Apr,88(4):494-510.Epub 2008 jan 24.
Effect of Pilates and taiiji quan training on self-efficacy, sleep quality, mood, and
pysical performance of college students.
Cadlwell k, Harrison M, Adams M, Triplett Nt.
J Bodyw Mov ther. 2009 Apr;13(2):155-63. Epub 2008 Feb 20.
Physical activity levels before and after a diagnosis of breast carcinoma. Cancer
Irwin M, Crumley D, Mctierman A, Bernstein L, Bauumgartner R, Gilliland F, et al.
2003;97:1746-57.
Physiotherapy after breast cancer surgery: results of a randomized controlled
study to minimise lymphoedema.
Box Rc, Reul-Hirche HM, Bullock-Saxton JE, Furnival Cm.
Department of Physiotherapy, University of Queensland, Brisbane, Australia.
http://www.inca.gov.br/estimativa/2008/
Viviane Café Marçal
Graduada em Fisioterapia
Especialista em Geriatria e Gerontologia UFMG
Especialista em Reabilitação Interdisciplinar do Idoso FCMMG
V0908@hotmail.com
Grece Almeida
Graduada em Fisioterapia
Sócia Fundadora e Professora de Pilates no Centro Reabilitação Yali
Coordenadora dos cursos de Pilates e R.P.G pela Clínica Yali
yali@oi.com.br www.yali.com.br